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Anemia ferropriva em crianças

A anemia ferropriva infantil é uma doença de grande prevalência no Brasil. É a categoria de anemia mais comum e a baixa ingestão de alimentos fonte de ferro é a principal causa. As crianças menores de cinco anos e os lactentes são grupos de risco para essa enfermidade que pode trazer efeitos deletérios para a saúde e repercussões para a vida dessas crianças. As crianças de até dois anos de idade, especialmente do sexo masculino, ainda possuem um risco mais elevado pois estão em um período da vida que possui uma grande velocidade de crescimento e desenvolvimento que demanda muito do organismo e podem estar sendo expostas a desmames precoces, alimentação complementar inadequada (geralmente seguindo o padrão familiar ou até mesmo em escolas e creches que ofertam a alimentação, mas não com qualidade e quantidade de nutrientes suficientes), entre outros. 


Imagem: Freepik


O ferro é muito importante por seu papel primordial no metabolismo. As hemácias (células vermelhas do sangue que são responsáveis pela troca gasosa) possuem a hemoglobina dentro de si. Essa hemoglobina é a proteína que transporta cerca de 98% do oxigênio presente no sistema circulatório. Isso ocorre pois ela possui em sua estrutura quatro grupos heme, que carregam majoritariamente quatro átomos de ferro ferroso (Fe+2, ferro obtido diretamente em fontes animais). 

As consequências da falta de ferro no sangue se iniciam com sintomas como cefaleia (dor de cabeça), fadiga, irritabilidade, palidez e podem ter consequências ainda mais graves como afetar a produção de hormônios, o crescimento e desenvolvimento cognitivo das crianças e comprometer sua imunidade.  

A amamentação na primeira hora de vida e posteriormente até pelo menos 24 meses protege as crianças da anemia, bem como o clampeamento tardio do cordão umbilical. Enquanto o desmame e a introdução precoce do leite de vaca ou até mesmo o consumo em idade já aconselhada, porém em excesso e em horários inadequados (junto das grandes refeições), podem favorecer o desenvolvimento desse quadro. Isso pois o cálcio presente no leite de vaca (e de outros mamíferos, exceto humanos) compete com os sítios de absorção do ferro e esse alimento é pobre em vitamina C, que potencializaria a absorção do ferro. O ferro do leite materno é mais biodisponível, portanto é melhor aproveitado. Parasitoses e infecções intestinais também podem prejudicar a absorção do ferro. 


Imagem: Freepik


O leite materno, para bebês a termo saudáveis, deve ser o suficiente para suprir a necessidade inicial de ferro pois as reservas de ferro desses bebês já vêm com uma quantidade razoável do nascimento. Existe um programa do Ministério da Saúde, o Programa Nacional de Suplementação de Ferro (PNSF, 2005), que recomenda a suplementação profilática de sulfato ferroso para alguns grupos:  gestantes ao iniciarem o pré-natal até o terceiro mês pós gestação e bebês de 6 a 24 meses. De acordo com a diretriz do PNSF “os suplementos (...) deverão estar gratuitamente disponíveis nas farmácias das Unidades Básicas de Saúde, em todos os municípios brasileiros”. Essa norma também defende ações como a RDC nº 344, da Anvisa (2002) que propõe a fortificação de ferro e ácido fólico em farinhas de trigo e milho, como tentativa de atingir o máximo possível da população.  


Imagem: Freepik


A escolaridade das mães foi associada à prevalência de anemia pois pessoas mais instruídas, em geral, possuem melhor condição socioeconômica, consequentemente uma saúde melhor e melhores condições de cuidados com o bebê (variedade alimentar de alimentos rico em ferro, por exemplo). Outro fator influente nessa enfermidade foi a desnutrição energético-proteica. 

Os alimentos que contêm ferro heme (ferro ferroso, o de melhor absorção) em maior quantidade são: vísceras, carnes e ovos. Já os que possuem ferro não heme (Fe +3, férrico) são os de fonte vegetal: verduras verde-escuras, como por exemplo espinafre, bertalha, brócolis. A absorção desse ferro férrico é favorecida quando aliada à vitamina C (cítricos como laranja, abacaxi, acerola). Importante frisar que assim como o cálcio, a cafeína também prejudica a absorção de ferro pelo mesmo motivo, portanto, o ideal é que os adultos que tomam chá ou café após o almoço, aguardem pelo menos 1 hora antes da ingestão desses alimentos.  


Imagem: Freepik


O exame utilizado para o diagnóstico da anemia é o hemograma completo aliado aos índices referentes ao metabolismo do ferro (transferrina, ferritina, ferro sérico). Aliados à anamnese do paciente, uma vez diagnosticado, ele(a) pode receber o tratamento (que pode consistir em ferro via oral ou parenteral) e ser orientado a como melhorar e potencializar o consumo de ferro na alimentação, dependendo dos níveis séricos.  

 

REFERÊNCIAS: 

ANDRÉ, Hercilio Paulino et al. Indicadores de insegurança alimentar e nutricional associados à anemia ferropriva em crianças brasileiras: uma revisão sistemática. Ciência & Saúde Coletiva, v. 23, p. 1159-1167, 2018.  

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Programa Nacional de Suplementação de Ferro Manual de Condutas Gerais. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. Disponível em:<manual_suplementacao_ferro_condutas_gerais.pdf (saude.gov.br)>. Acesso em: 05 abr. 2024. 

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção à Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos. Brasília: Ministério da Saúde, 2019. Disponível em: < http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/guia_da_crianca_2019.pdf >. Acesso em: 05 abr. 2024.

GONTIJO, Tarcísio Laerte et al. Prática profilática da anemia ferropriva em crianças na estratégia saúde da família. Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro, v. 7, 2017. 

SILVA, Mariane Alves et al. Prevalência e fatores associados à anemia ferropriva e hipovitaminose A em crianças menores de um ano. Cadernos Saúde Coletiva, v. 23, p. 362-367, 2015. 

YAMAGISHI, Jessica Akemi et al. Anemia ferropriva: diagnóstico e tratamento. 2017. 

ZUFFO, Cristie Regine Klotz et al. Prevalência e fatores de risco da anemia em crianças. Jornal de Pediatria, v. 92, p. 353-360, 2016. 

 

 

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