top of page

Introdução alimentar: recomendações oficiais

A introdução alimentar (IA) possui algumas recomendações oficiais acerca de conservação dos alimentos, idade que o sal e o açúcar devem ser oferecidos, entre outras. Vamos discorrer um pouco sobre cada uma delas. 

Todas as frutas, verduras e legumes devem ser higienizados em solução de água clorada, no rótulo do cloro (água sanitária) vem a recomendação da diluição a ser feita e o tempo necessário (geralmente 15 minutos) que os alimentos devem ficar de molho. Em geral a recomendação é uma colher de sopa de cloro para um litro de água. Depois desse processo basta enxaguar, deixar secar e armazenar os alimentos. Atente-se ao rótulo da água sanitária, vem uma área de indicações, para que ela seja adequada para esse uso, é necessário estar escrito que uma de suas destinações é a limpeza de alimentos.  


Imagem: Freepik

Utilize a refrigeração e o congelamento como aliados. É muito comum encontrar pessoas que se preocupam se a comida congelada não vai perder nutrientes. A resposta é: sim, ela vai perder nutrientes como qualquer alimento manipulado, qualquer tipo de cozimento vai acarretar essa perda. Mas essa comida ainda continua sendo adequada (e melhor do que qualquer ultraprocessado indicado como comida para crianças). É muito comum na correria do dia a dia os responsáveis pelo bebê não terem tempo para cozinhar todos os dias. Não há nenhum problema se organizar para cozinhar uma vez na semana, por exemplo, e esquentar as refeições do bebê no dia a dia. Existem forminhas de gelo que já vêm com tampa justamente para facilitar, congelar os alimentos nesses cubos é uma ótima ideia pois evita o desperdício. O alimento refrigerado pode ser oferecido durante três dias para o bebê e o congelado em até 30 dias. Em 30 dias meu alimento congelado vai estragar? Não necessariamente, mas como estamos falando de bebês e crianças ainda formando o sistema imunológico, o ideal é aumentar a margem de segurança. Não se deve recongelar um alimento já cozido depois de descongelado. Quando o alimento for preparado, é necessário refrigerá-lo ou congelá-lo em no máximo duas horas pois a temperatura ambiente é ideal para a proliferação de micro-organismos.  

Quem amamenta em livre demanda não deve reduzir as mamadas no princípio da IA. A lactoferrina do leite materno potencializa a absorção de ferro obtido nas refeições. Já o leite da fórmula infantil atrapalha a absorção de ferro e deve ser respeitado um intervalo de no mínimo 40 minutos, idealmente de 2 horas para ser ofertados após as grandes refeições. Não se deve cortar o leite do bebê para que ele se alimente. Como já falado o bebê está em introdução alimentar, a comida é complemento e o leite ainda é a principal fonte alimentar e de nutrientes.  

Uma rotina deve ser implementada. Atenção: rotina não significa horários fixos. Serve apenas para dar previsibilidade para a criança. Se o bebê almoça após a soneca da manhã, esse ritmo deve ser respeitado. O que não deve ocorrer é acordar o bebê da soneca para almoçar se ele estiver dormindo um pouco mais. Não há problemas em esperar o bebê acordar para então oferecer o almoço. E se o bebê é amamentado com leite materno e quiser mamar antes ou durante a refeição, também não trará nenhum malefício. Pelo contrário, bebê irritado e faminto não come (pois ele ainda não compreendeu o papel do alimento e está habituado a mamar para matar a fome). 


Imagem: Freepik

O guia do Ministério da Saúde, de 2019, determina que: aos 6 meses o bebê deve ter a oportunidade de fazer 3 refeições, constituídas por: almoço ou jantar e dois lanches. Entre 7 e 11 meses o bebê deve fazer 4 refeições: almoço e jantar, além de dois lanches. Bebês a partir de um ano devem fazer 5 ou mais refeições (desjejum, colação, almoço, lanche da tarde, jantar e pode haver uma ceia). O leite materno não conta como refeição e deve continuar sendo ofertado em livre demanda sempre que possível (se a mão se ausenta para trabalhar, o leite pode ser congelado e dado por outro cuidador e para bebês maiores que já comem bem, o leite materno pode ser ofertado quando a mãe está presente com o bebê). A fórmula no princípio da IA também deve ser mantida como prescrita de maneira individual e posteriormente cada caso deve ser analisado. 

A saciedade do bebê deve ser respeitada. Quando ele fecha a boca, recusa alimentos e se demonstra irritado em estar no cadeirão, a refeição deve acabar. Um prato entupido de comida também pode assustar o bebê e ele se recusar a comer. A quantidade norte de comida para um bebê de 6 meses, por exemplo, é 2 colheres de sopa somente. Se o seu bebê come essa quantidade e pede mais, pode oferecer. Mas se ele não come nem isso, tudo bem, ele ainda está se habituando. Também é necessário lembrar aos pais e cuidadores que os bebês e crianças costumam comer menos que os adultos gostariam e não há nada errado. A autorregulação energética se encarrega de determinar quanta fome aquela criança está sentindo. O que não deve ocorrer é ensinar ao bebê o hábito de “petiscar” fora das refeições. Se não o bebê não sentirá fome e entenderá que pode comer alimentos que compõem o lanche a qualquer momento do dia. Os componentes de uma refeição principal são muito importantes para o desenvolvimento dessa criança e não devem ser substituídos regularmente.  

Alguns bebês podem sofrer de constipação na IA. Não é tão comum, mas se acontecer é importante analisar se a quantidade de água e fibras ingeridas pelo bebê estão equilibradas. Essa é mais uma razão para não liquidificar os alimentos. Bebês que mamam no seio materno, em geral, sofrem menos com esse problema pois se hidratam bastante também via leite materno. Alimentos como mamão, azeite de oliva e abacate podem ser aliados nesses quadros também.  


Imagem: Freepik


Antigamente se acreditava que alimentos com maior potencial alérgico deveriam ser oferecidos mais tardiamente. Hoje já se sabe que esses alimentos devem ser introduzidos na janela imunológica (entre 6 e 9 meses) justamente com o objetivo de diminuir as chances de alergias. Oleaginosas (amendoim, castanhas) devem ser oferecidas em forma pastosa pois podem causar engasgo. Ovo, frutos do mar (de procedência confiável), leite de vaca e seus derivados devem ser oferecidos o quanto antes. O leite pode ser oferecido em preparações ou via derivados, mas não deve ser utilizado para substituir o leite materno nem a fórmula infantil.  

Alimentos fontes de vitamina C devem ser oferecidos todos os dias, pois ela é importante e é fácil atingir a necessidade diária. A suplementação por conta própria é desnecessária e não recomendada (podendo ser prejudicial). Chás (não diuréticos nem com cafeína) até podem ser oferecidos para bebês a partir de 6 meses, mas bem esporadicamente para não encherem o estômago (já pequeno) da criança.  

A água (filtrada e fervida ou clorada) deve ser dada ao bebê desde o início da IA (alguns bebês de mamam fórmula infantil podem precisar de água antes dos seis meses, mas essa recomendação deve ser individualizada e feita por um profissional de saúde que acompanhe esse bebê). Beba água perto de seu bebê pois a imitação fará com que ele(a) também queira fazê-lo.  

O ferro (fontes: carnes, ovos, vegetais verdes escuros e leguminosas) é um elemento muito importante e há um programa nacional para sua suplementação em bebês, gestantes e puérperas. Isso além da fortificação de alimentos (farinhas de trigo e de milho) de ampla utilização na população brasileira. É possível ajudar a absorção desse elemento nas refeições. São medidas simples: evitar a oferta de alimentos derivados de leite de vaca em refeições (o cálcio presente nesses alimentos compete com o ferro pelos sítios de absorção), deixar os grãos de leguminosas de molho antes de cozinhar (podem ser colocados de molho na noite anterior e devem ser cozidos em uma nova água, não a que estava durante o demolho) e dar uma fruta fonte de vitamina C (acerola, laranja, kiwi) para o bebê após as grandes refeições (almoço e jantar), pois a vitamina C potencializa a absorção do ferro.  

Os pratos das grandes refeições do bebê devem ser compostos por: carboidrato, leguminosas, legumes, verduras e carnes/ovo. Em bebês vegetarianos ou veganos o último grupo será excluído e a procura de um profissional para orientar como repor os nutrientes desses alimentos é recomendada. Todos esses grupos alimentares são importantes e possuem seu papel. Se não for possível oferecer os cinco grupos na mesma refeição, tudo bem. Mas ofereça na grande refeição seguinte. O importante é que o hábito seja o prato estar completo sempre que possível.  


Imagem: Freepik


Preferencialmente, todos os lanches do bebê que está nos primeiros meses da IA devem ser frutas. A partir dos 9 meses tudo bem oferecer outros lanches saudáveis (pães, cuscuz de milho, tapioca, polenta, tubérculos) aliados às frutas (que devem continuar sendo prioridade). O ideal é a oferta de pelo menos dois lanches com frutas no dia (quanto maior a variedade melhor).  

As fontes de gordura mais recomendadas são: azeite de oliva, manteiga, óleo de coco e banha de porco. Todas devem ser oferecidas em pequenas quantidades! Podem ser utilizadas para refogar alimentos trazendo mais sabor às preparações. 

Se o seu bebê de 1 aninho está com o apetite diminuído, não há nada errado. Ao atingir essa idade, a velocidade do crescimento desses bebês diminui e eles podem comer menos.  

No Brasil existem, no momento, duas recomendações oficiais a respeito do sal. O Ministério da Saúde (MS) afirma que ele pode ser utilizado na IA em quantidades mínimas, já a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda esperar os 12 meses para adicionar o sal nas refeições do bebê. Em ambos os casos é possível utilizar temperos naturais (cebola, alho, manjericão, entre outros) para temperar as refeições da criança. Somente o sódio intrínseco dos alimentos mais o leite (materno ou fórmula) já é o suficiente para as necessidades diárias do bebê de 6 a 12 meses. Logo é possível esperar e somente adicioná-lo a partir do primeiro ano de vida do bebê. Mas se a pessoa optar por seguir a recomendação do MS, é importante atentar à expressão chave “quantidades mínimas”.  

A respeito do açúcar, a recomendação oficial é zero açúcar antes dos dois anos. O paladar humano possui uma predileção por alimentos doces, logo é importante sedimentar muito bem a alimentação variada e saudável antes de introduzir o açúcar para que a criança possa ter um consumo de açúcar equilibrado no futuro. Importante frisar que mel também adoça, logo entra nessa categoria e ainda possui um risco de estar contaminado e causar botulismo, que em bebês pode ser fatal devido ao seu sistema imunológico ainda imaturo. 

Sucos (naturais e sem açúcar) não são recomendados para menores de um ano (industrializados não são recomendados para ninguém) pois ao coar as fibras, o açúcar presente das frutas chega ao sangue muito mais rápido e pode causar um pico de glicemia. Nas frutas, o equilíbrio frutose-fibras impede que isso aconteça. Isso além de que podem prejudicar a aceitação da água que se torna “sem graça” quando comparada com sucos. A partir de um ano é indicado em pequenas quantidades somente e não precisam ser dados todos os dias. Implementar o hábito de beber água e comer frutas é muito melhor.  

Café também é um alimento que deve ser considerado com precaução. Primeiro porque cafeína não é recomendada a bebês (nem a crianças) pois pode alterar o sono por ser estimulante. Segundo porque a mucosa gástrica pode ficar irritada pela cafeína por não ser ainda madura o suficiente. E por último, a cafeína atrapalha a absorção do ferro dos alimentos (até mesmo em adultos é recomendado esperar pelo menos 30 minutos antes de tomar café após as grandes refeições). 

Essas recomendações oficiais buscam melhorar a saúde das populações futuras, diminuindo principalmente as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) que acometem em grandes números a população brasileira e podem ser reduzidas com a adoção de hábitos alimentares mais saudáveis.  


REFERÊNCIAS

DANEMBERG, Franciele. Nutrindo meu bebê: guia alimentar dos 0 aos 24 meses. 5. ed. Porto Alegre: Ed. da autora, 2021.

DE LIMA, Fernanda Ribeiro; ANDRADE, Ana Helena Gomes. Introdução alimentar em lactentes: uma revisão de literatura. Revista Terra & Cultura: Cadernos de Ensino e Pesquisa, v. 37, n. 73, p. 135-147, 2021.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Programa Nacional de Suplementação de Ferro Manual de Condutas Gerais. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. Disponível em:<manual_suplementacao_ferro_condutas_gerais.pdf (saude.gov.br)>. Acesso em: 17 mar 2024. 

26 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page