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Marketing Infantil

O marketing voltado para o público infantil pode ser muito convincente e, na mesma medida, prejudicial. Atualmente as crianças passam cada vez mais tempo em frente às telas e são submetidas às mais variadas propagandas, muitas vezes sem conhecimento dos pais, que permitem que os canais de televisão e, principalmente, a internet façam parte da vida das crianças sem a supervisão e a delimitação de tempo adequadas.  

Imagem: Freepik

Para além do consumismo desenfreado (que muitas vezes traduz a busca de “status”), isso é um problema porque também afeta a saúde dessas crianças. Muitos alimentos ultraprocessados, que deveriam ser evitados ao máximo, fazem parte da vida das crianças e garantem seu espaço através dessas propagandas. Isso se configura em um grande problema pois as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como a diabetes e as doenças cardiovasculares, viraram uma epidemia na população, e essas enfermidades são ocasionadas devido à alimentação e aos hábitos populacionais. Enquanto há algumas décadas havia uma epidemia de desnutrição no Brasil, no momento enfrentamos uma epidemia de obesidade (que favorece o desenvolvimento dessas DCNT).  

Os costumes das crianças também foram alterados. Nas décadas anteriores, o mais comum era ver as ruas cheias de crianças brincando das mais variadas brincadeiras (que em geral envolviam atividade física). Porém, com o aumento da violência e o advento das telas, além da inserção da mulher no mercado de trabalho, os costumes populacionais se alteraram. Os responsáveis não têm mais o tempo que se tinha antigamente com as crianças, muitas vezes elas passam grande parte do dia nas escolas e em atividade extracurriculares, também, quando chegam em casa, é muito comum que fiquem com algum(a) (em geral alguma) funcionário(a) da família ou, quando há, a rede de apoio da família (avós, tios). Os alimentos ultraprocessados (os fast foods, os alimentos congelados) ganharam espaço na rotina. Como grande parte da sociedade mudou o seu padrão de convivência com as famílias, aqueles que têm algum familiar para cuidar das crianças na ausência dos pais, ou que um dos pais pode estar em casa com os filhos, prezam pela praticidade e rapidez. Isso deu um poder muito grande para a mídia.  

Imagem: Freepik

As telas são tão viciantes, que as crianças e adolescentes majoritariamente as preferem a sair de casa para brincar. Isso para além do fator segurança. Não é mais comum, e nem seguro, que as crianças passem horas de seu dia brincando na rua. Fora os privilegiados que tenham acesso aos condomínios fechados com áreas para brincar (e que ainda assim necessitam de supervisão), esse hábito realmente deu lugar a televisões, computadores, tablets, celulares e videogames. E o marketing voltado para esse público, que obviamente já existia na televisão, se intensificou. Todos os streamings e plataformas de vídeos (inclusive as redes sociais) têm propagandas. Não há como assistir a um vídeo, rolar um feed de uma rede social, ou acompanhar um programa de televisão sem ser bombardeado de comerciais. Até mesmo nas cenas das telenovelas vemos atores fazendo propaganda de produtos.  

Quem não se lembra (ou não ouviu falar) das propagandas glamurosas de cigarro? Em 2011 elas foram proibidas devido ao mau que esses produtos fazem. As propagandas de bebidas alcoólicas ainda ocorrem, porém com algumas regulamentações (aviso à qual faixa etária se destina o produto, o famoso “se dirigir, não beba”). O que ambas têm em comum? O apelo. São sempre pessoas “bonitas”, para o padrão social atual, de sucesso, felizes, consumindo aquele produto e isso induz nosso cérebro a pensar que também precisa daquilo. Com as crianças e os adolescentes, não é diferente. Qual adulto de hoje não tem alguma lembrança de algum brinquedo ou algum lanche de sua infância que foi comprado após assistir a tantas propagandas? O ditado “a propaganda é a alma do negócio” não é à toa.  

O debate é intenso e ainda vai durar bastante. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), junto com diversas outras associações e órgãos, como o Instituto Alana, protegem os direitos das crianças e dos adolescentes. Existem leis e resoluções como por exemplo a Resolução 163 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), que afirma ser abusivo direcionar para crianças comerciais que tenham a intenção de persuadi-las a consumir produtos e serviços (devido à sua inocência e ainda estarem em desenvolvimento intelectual, se adultos são enganados por propagandas muitas vezes, imagine o público infantil). Há, inclusive, uma lista de ações proibidas nesses comerciais (como o uso de bonecos, desenhos, trilha sonora infantil). Porém as grandes companhias parecem conseguir encontrar todas as brechas nas leis. A fiscalização não consegue dar conta de todos os problemas. Ainda que parte da população denuncie, as grandes marcas se esquivam das normas. É proibido obrigar a pessoa a comprar um lanche ultraprocessado para ganhar um brinde infantil? Tudo bem, a companhia vende o brinde (por um preço abusivo geralmente). Até mesmo recursos como lançar uma propaganda proibida na sexta-feira à noite já foram utilizados pelas marcas, afinal, os órgãos regulamentadores só abririam e conseguiriam agir na segunda-feira, é um investimento que vale a pena, a multa, a retirada do comercial do ar, valem a pena comparadas ao lucro obtido.  

Imagem: Freepik


É dever dos pais e responsáveis estarem atentos a seus filhos e acompanharem o conteúdo que consomem, além de estimulá-los a utilizar as telas de maneira equilibrada, já que outras atividades, com mais interação com os pares são essenciais. Bem como construir bons hábitos alimentares e de exercício físico. Mas é papel da sociedade como um todo proteger a infância para criar uma geração com saúde mental e física melhores.  

 

REFERÊNCIAS 

CECCATTO¹, Daiane et al. A influência da mídia no consumo alimentar infantil: uma revisão da literatura. Conselho Editorial, p. 140, 2018. 

DANTAS, Newton José de Oliveira. Marketing de alimentos e obesidade infantil: diretrizes para regulamentação. 2015. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. 

LIMA, Ângela. Marketing alimentar: a influência da embalagem nas escolhas alimentares do consumidor infantil. 2015. Tese de Doutorado. 

SILVA, Marco Aurélio Santana da et al. A regulamentação da publicidade infantil de alimentos no Brasil, bastidores de uma década de debate sobre a implementação de uma política pública. 2021. Tese de Doutorado. 

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